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Tags: Lições de Escrita.
Nomear os personagens da sua história de uma maneira errada pode causar vários problemas na sua narrativa.
Nesta semana, fui revisar um texto de um escritor e me deparei com esse detalhe que, embora pareça ser algo simples, me causou uma impressão negativa.
Ao ler o texto, percebi o quanto eu estava confuso em diferenciar cada um dos sete personagens.
Mesmo que fossem três homens e quatro mulheres na história, quatro nomes começavam com a mesma inicial, sendo que um desses nomes era um apelido de outro personagem.
Parece algo bobo, mas só o fato de ter quatro vulgos com a mesma inicial causou um nó na minha cabeça, e com certeza causaria em outros leitores.
Escolher nomes para personagens é uma das etapas mais estratégicas na construção de uma narrativa, pois os nomes carregam peso, contexto e significados que ajudam a criar uma conexão entre o público e a narrativa.
Um nome mal escolhido pode confundir ou até desviar a atenção das pessoas, enquanto um nome adequado pode criar um personagem inesquecível.
Neste artigo, vou compartilhar dicas práticas e rápidas para você criar nomes que não apenas identifiquem seus personagens, mas que também fortaleçam a essência da sua história.
Use Nomes e Letras Iniciais Diferentes
No mundo real, é bem comum encontrarmos amigos e parentes que possuem as mesmas iniciais no nome (eu e meu irmão somos uma dessas pessoas: Fábio e Flávio).
Em histórias medievais, encontramos o Rei Charles IV e seu irmãozinho Charles V, e nesses casos existe uma razão lógica disso acontecer, e narrativas como Game of Thrones usam desta temática para criar uma verossimilhança mais rica dentro da obra.
Outra razão para George R. R. Martin ter decidido nomear seus personagens dessa maneira é sua incrível capacidade de matar personagens (kk), o que facilita a leitura ao eliminar alguém com um nome idêntico ao de outro.
A não ser que você queira matar todos os seus personagens, não há necessidade em criar nomes idênticos ou de mesma inicial.
Imagine uma história onde os protagonistas se chamam Lucas, Luana e Luíza.
No papel, pode parecer coerente, mas, na prática, essa repetição confunde o leitor e dificulta a imersão.
Para evitar isso, escolha letras iniciais diferentes para cada personagem; assim, o nome se torna uma assinatura visual única no texto, onde apenas um olhar de relance destaca o nome facilmente.
Equilibre Nomes Longos e Curtos
O tamanho de um nome é outro fator que também causa um destaque visual.
Não há dúvidas de que em menos de um segundo você consiga diferenciar os nomes de Daenerys e Jon nas Crônicas de Gelo e Fogo.
Alternar entre nomes curtos e longos não apenas dá dinamismo ao texto, mas também reflete a diversidade natural de nomes que encontramos na vida real.
Personagens com nomes longos, como Sebastião, podem ganhar apelidos ao longo da trama (Bastião ou Tião), ajudando a mostrar proximidade entre os personagens.
O ideal é que os nomes mais elaborados e icônicos pertençam ao personagens principais, enquanto secundários ficam com nomes mais simples para não roubar a atenção.
Respeite o Contexto Histórico e Cultural
Cada época e cultura tem suas peculiaridades, e o nome do seu personagem deve refletir isso.
Alguns nomes são atemporais, como Charles e Eduardo, que foram muito utilizados em países da antiga Europa.
Outros são religiosos e foram traduzidos em diversos idiomas, como é o caso de João e John, Noé e Noah, Maria e Mary, etc.
Uma narrativa ambientada na Idade Média pode incluir nomes como Escanor ou Thorfinn, enquanto um cenário futurista pode justificar algo como Zero ou V.
Embora Daenerys Targaryen tenha se tornado icônica, a complexidade de seu nome só funciona porque Game of Thrones apresenta um contexto cultural rico que a justifica.
Uma boa pesquisa de listas de nomes populares em diferentes épocas ajuda neste processo.
Dê Significados e Simbolismos
Além do contexto, os nomes podem ser mais do que rótulos; eles podem carregar pistas sobre o caráter ou a trajetória do personagem.
Por exemplo, Aurora pode simbolizar esperança e renovação, enquanto Victor sugere alguém destinado à vitória.
Outros exemplos de personagens conhecidos:
Severus Snape (Harry Potter): "Severus" significa "severo" ou "austero" em latim, representando sua personalidade rígida e complexa. O sobrenome "Snape" pode ser associado ao verbo inglês snap (quebrar, estalar), refletindo sua personalidade cortante e seus momentos de fragilidade emocional;
Katniss Everdeen (Jogos Vorazes): "Katniss" é o nome de uma planta aquática comestível conhecida como sagittaria, derivada de "sagitta", que significa "flecha" em latim. Isso simboliza sua habilidade com o arco e flecha e sua precisão como lutadora e líder;
Luke Skywalker (Star Wars): "Luke" pode remeter ao latim lux, que significa "luz", simbolizando sua conexão com o lado luminoso da Força. "Skywalker" reflete sua jornada épica entre as estrelas e sua busca por iluminação espiritual.
Sonoridade
Atenção ao som e à estrutura dos nomes.
Ana e Anna ou João e Jonas podem causar tropeços na leitura, especialmente em cenas onde os dois interagem.
Garanta que os nomes tenham sonoridades distintas e combinem com a personalidade e o papel de cada personagem.
Leia em voz alta os diálogos com esses nomes para identificar possíveis confusões.
Esse detalhe é especialmente importante se sua história tiver potencial para ser narrada em áudio ou traduzida.
Escolha nomes que fluam bem e que não gerem cacofonia — termo referente a um vício de linguagem onde a combinação de fonemas gera sons ambíguos ou indesejáveis, como as palavras “boca dela” soando como “cadela”.
Experimente dizer o nome várias vezes em diferentes tons e ritmos; se ele soar complicado, ajuste-o.
Conclusão
É essencial atentar-se à escolha dos nomes dos personagens.
Não negligencie esse aspecto; uma palavra pode definir melhor um personagem do que descrições físicas.
É difícil imaginar um cara chamado Brutus sendo um homem baixinho, tímido e fraco… a menos que isso faça parte de uma piada de muito mau gosto (KKKK).
Da mesma forma, é difícil acreditar que um russo seja chamado de Seu Zé (e, caso isso ocorra, ele deve ter uma história bastante louca para contar).
Alguns nomes permitem a criação de histórias por meio do subtexto, seja por apelidos, superstições ou nomes incomuns, o que contribui para identidades inesquecíveis na narrativa.
Siga estas dicas para tornar os nomes numa parte inseparável do universo que está construindo.
Por meio de reescritas e da avaliação de leitores beta, esse processo se torna mais fácil.
Então escreva.
Crie.
Torne-se Deus.
Obrigado por ter lido.
— F. Serafim
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