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Tags: Lições de Escrita, Cenas.
Você já se pegou lendo um livro e não conseguiu mais largar?
Há diversos fatores para isso acontecer, mas tudo se encontra em uma estrutura bem amarrada e emocionalmente envolvente.
Praticamente, qualquer divisão de uma história vai possuir uma estrutura de começo, meio e fim.
E, se separarmos cada seção dessa estrutura, encontraremos estruturas menores, chamadas de sequências, cada uma também possuindo um arco narrativo.
Em cada sequência encontra-se um punhado de cenas, e a magia de uma história envolvente está na construção perfeita dessas unidades narrativas.
O que é uma cena?
Uma cena é uma ação causada por intenção e obstáculo num determinado local e espaço de tempo contínuo que causa uma mudança de comportamento significante e perceptível aos personagens e/ou ao mundo.
Elas dependem de contexto anterior para acontecer e precisam causar uma transformação, seja mudando o status quo de positivo para negativo ou o inverso.
Possuem 5 elementos básicos:
Dono da Cena: é o personagem que será o Ponto de Vista do espectador e causará os acontecimentos mais significativos da cena. O Dono da Cena pode ou não ser o protagonista da história, mas, independente de seu papel narrativo, durante a cena ele se torna o protagonista. Portanto, toda vez que eu citar “protagonista” ou “personagem” neste artigo estarei me referindo ao Dono da Cena;
Local: também chamado de Moldura, é a parte fixa do cenário onde se passa a cena, contendo atmosfera e tudo visual ao redor. Atmosfera são detalhes variáveis como luz, temperatura, fenômenos atmosféricos, ciclo de dia e noite, etc.
Espaço de Tempo: é a duração da cena, que pode variar entre minutos ou se estender por dias, como uma batalha, por exemplo;
Conflito: o conflito se manifesta quando um ou mais obstáculos surgem contra o protagonista, impedindo-o de atingir aquilo que ele quer na cena;
Resolução e Mudança: o conflito é resolvido ou parcialmente resolvido, com o protagonista atingindo seu objetivo ou não. De qualquer forma, deve haver mudança após a resolução, e, por vezes, a própria mudança é a resolução da cena.
Além destes elementos básicos, cenas são divididas em dois tipos, sendo cada um destes servindo especificamente para uma função narrativa, e é aqui que encontramos os segredos de cenas perfeitas:
Cenas de Ação;
Cenas de Reação.
Cenas de Ação
As cenas de ação causam tensão narrativa e forçam o protagonista a ser proativo.
Elas são dividas em 3 fundamentos: Objetivo, Conflito e Desastre.
Objetivo:
No começo da cena, o protagonista possui uma intenção.
Este objetivo tem que ser específico, de fácil definição e explícito.
Pergunte-se “De que forma esse objetivo pode ser materializado de modo a facilitar a visualização do espectador?”.
Lembrando que a Intenção deve estar de alguma forma ligado ao objetivo maior da trama como um todo.
Conflito:
Ao querer algo, o protagonista enfrenta adversidades.
Ele não pode conseguir o que quer facilmente.
As complicações podem ser um antagonista surge querendo a mesma coisa que ele, ele precisa perder algo para atingir seu objetivo, etc.
Se estiver com dúvidas sobre o que colocar em seu caminho, aqui está uma lista de alguns Obstáculos que possam te ajudar:
Obstáculos Físicos: ambientes inóspitos, inimigos, desastres naturais, lesões, doenças, escassez de recursos, etc;
Obstáculos Sociais: preconceito e discriminação, conflitos familiares, reputação, estigma, autoridades corruptas, traição, conspiração, etc;
Obstáculos Psicológicos: medos, fobias, transtornos mentais, dilemas morais, sacrifícios pessoais, perdas emocionais, crises de identidade, etc;
Obstáculos Logísticos: barreiras linguísticas, falta de informações, limitações de tempo, problemas de transporte, tecnologia de mal operação, etc.
Aumente os riscos e qualquer tipo de surpresa, mas não adicione tudo de uma vez, senão isso pode tornar a tarefa do protagonista impossível ou inverossímil.
Desastre:
Idealmente, a cena deve terminar em desastre, com o personagem fracassando em seu objetivo e ficando sem alternativas.
O que dá errado e como isso acontece?
Se ele consegue o que quer, o leitor perde o interesse de continuar sua história.
Contudo, se ele realmente tem sucesso, algo prejudicial tem que vir junto com algo positivo.
Use o seguinte esquema para determinar o desastre da cena:
O protagonista não consegue o que quer e… um desastre acontece;
O protagonista consegue o que quer, mas… outras complicações surgem.
Cenas de Reação
Cenas de Reação forçam uma reação ao desastre e uma decisão proativa do personagem.
As consequências da Cena de Ação pairam sobre o interior do protagonista, emocionando-o e deixando-o refletindo sobre o que fará em seguida.
Também são divididas em 3 fundamentos: Reação Emocional, Dilema e Decisão.
Reação Emocional:
Após o desastre, o protagonista deve sentir alguma emoção.
Aqui é hora do choro, da dúvida, do arrependimento, da raiva, da desesperança.
Como o personagem reage fisicamente, emocionalmente, intelectualmente e o que ele pensa a respeito de si mesmo ou acerca da cena anterior?
Dilema:
Depois de sentir, ele começa a ser racional.
O protagonista pensa sobre quais alternativas possui para sair da situação que se encontra, medindo quais serão as opções que causarão menos consequências negativas.
Nenhum caminho parece ideal, demonstre isso.
Decisão:
Dentre as linhas de ação, o protagonista decide seguir a menos pior delas.
Por que ele decidiu isto ao invés das outras alternativas?
A sua decisão cria o setup para a próxima Cena de Ação, dando início a um ciclo narrativo de cenas.
A Importância da Alternância de Cenas Ativas e Reativas
As Cenas de Ação aceleram a narrativa, criam drama, emoção, demonstram cenário, constroem conflito e revelam personagem através da proatividade, e gostamos de pessoas que movem a história e que não ficam passivas a ela.
As Cenas de Reação desaceleram a narrativa, aprofundam personagem, mostram suas motivações, medos, expectativas e como se recuperam das Cenas de Ação e traçam planos futuros.
Essa dinâmica de alternância entre cenas cria plausibilidade e realismo na narrativa, provocando momentos de euforia e relaxamento, que eliminam o tédio e desinteresse do leitor.
Concluindo
Com a exceção de um beat narrativo definido por Robert McKee em seu livro Story — que ainda falarei sobre algum dia —, cenas são a menor unidade narrativa dentro de uma história.
Uma cena resolve um problema, mas não resolve tudo; se resolver tudo, não há mais motivo para acompanhar a história.
É importante que o leitor saiba o que está em jogo, o motivo de sua importância e a mudança que isso desencadeia nas páginas seguintes.
Cenas sem conflito e obstáculos tendem a ser apenas exposição tediosa e feita de forma preguiçosa.
Analise a cena: ela é de Ação ou de Reação?
Se não é nenhuma das duas, encontre uma maneira de ser ou jogue-a fora.
Na maioria das vezes, estas perguntas serão melhor respondidas durante a reescrita, e aqui vai uma série de perguntas que possam te ajudar nesta etapa:
O que os personagens querem?
Qual o problema específico da cena?
O que cria o conflito da cena?
O que os personagens fazem para tentar conseguir o que querem?
Se eles não conseguem alcançar o objetivo, qual foi o motivo de suas falhas?
Se eles conseguem alcançar o objetivo, o que acontece depois que complica a situação?
Como a cena muda a história em geral?
Comece a transformar suas histórias hoje mesmo com estas técnicas de escrita.
Seguindo essa estrutura, suas cenas não só prenderão a atenção dos leitores, mas também darão profundidade e fluidez à sua narrativa.
Pratique esses conceitos e veja a diferença que eles fazem na sua escrita.
Obrigado por ter lido.
Escreva. Crie. Torne-se Deus.
— F. Serafim
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